terça-feira, 27 de agosto de 2019

Marxismo Cultural - Uma abordagem.

Marxismo cultural é uma estratégia discursiva utilizada predominantemente pela direita brasileira para anular as práticas opostas aos seus objetivos, as colocando sob a classificação de “marxistas”, “de esquerda”, “comunistas”. Esta estratégia generaliza todas as práticas não conservadoras como de esquerda radical ou manipuladas pela esquerda radical.

Como isso pode acontecer?

Virou moda dizer que existe um plano maquiavélico por trás do governo do PT, uma escalada alternativa para a sociedade comunista que seria pautada em pequenas mudanças gradativas na cultura e nas instituições ao invés da tomada do poder à força, modelo de implantação do comunismo supostamente fracassado no século passado. Este argumento é encabeçado por personalidades como Olavo de Carvalho, pelo site Mídia Sem Máscaras, por Reinaldo Azevedo e Rodrigo Constantino.

É comum ler que tal estratégia (a da dominação pela cultura) nasceu das análises culturais da Escola de Frankfurt e do filósofo marxista Antonio Gramsci e seu conceito de hegemonia cultural.

Segundo Olavo de Carvalho, em seu artigo de 2002 chamado “Do Marxismo Cultural“, escrito em sua coluna no jornal O Globo,

um cérebro marxista nunca é normal. O filósofo húngaro Gyorgy Lukacs, por exemplo, achava a coisa mais natural do mundo repartir sua mulher com algum interessado. Pensando com essa cabeça, chegou à conclusão de que quem estava errado não era a teoria: eram os proletários. Esses idiotas não sabiam enxergar seus “interesses reais” e serviam alegremente a seus inimigos. Estavam doidos. Normal era Gyorgy Lukács. Cabia a este, portanto, a alta missão de descobrir quem havia produzido a insanidade proletária. Hábil detetive, logo descobriu o culpado: era a cultura ocidental. A mistura de profetismo judaico-cristão, direito romano e filosofia grega era uma poção infernal fabricada pelos burgueses para iludir os proletários. Levado ao desespero por tão angustiante descoberta, o filósofo exclamou: ‘Quem nos salvará da cultura ocidental?’

Olavo ainda afirma que esta foi uma sacudida que os próprios socialistas tomaram, após se depararem com a impossibilidade da revolução comunista internacionalista. “Stálin recomendava que os partidos comunistas ocidentais recrutassem, antes de tudo, milionários, intelectuais e celebridades do ‘show business'”, diz ele sem apresentar suas fontes.

Gramsci e a revolução cultural, Marcuse, Adorno e Horkheimer e a Escola de Frankfurt, são nomes responsabilizados por Olavo pela destruição da cultura ocidental, único objetivo de tais pensadores. “Como não falava em revolução proletária nem pregava abertamente nenhuma truculência, a nova escola foi bem aceita nos meios encarregados de defender a cultura ocidental que ela professava destruir”. O plano era perfeito até encontrarem a perspicácia do mestre Olavo.

Um de seus discípulos, Felipe Moura Brasil, em artigo para seu blog na Veja, cita Linda Kimball para embasar sua visão do estado cultural contemporâneo, “Lukács instalou um programa de educação sexual radical e palestras sexuais foram organizadas; foi distribuída literatura contendo imagens que instruíam graficamente os jovens a enveredar pelo ‘amor livre’ (promiscuidade) e pela intimidade sexual (ao mesmo tempo que a mesma literatura os encorajava a ridicularizar e a rejeitar a ética moral cristã, a monogamia e a autoridade da igreja). Tudo isso foi acompanhado por um reinado de terror cultural perpetrado contra os pais, sacerdotes e dissidentes”.

Além dessas citações, o vídeo abaixo ilustra o que vem a ser o marxismo cultural na perspectiva destes rapazes.

A televisão, os livros escolares, as músicas, a arte em geral, e toda a educação, assim como a justiça e a estrutura do Estado, estariam sendo alterados microscopicamente para, depois de um tempo de modificações acumuladas, promover um momento ideal para a revolução comunista, que dessa vez seria silenciosa e sem derramamento de sangue. Uma enganação que faz quase todo mundo de presa, uma ilusão que cobre a realidadeO mundo neutro antes do marxismo cultural

Segundo estas personalidades, haveria um mundo puro, neutro, imparcial, que é constantemente corrompido pela intenções comunistas de grupos de esquerda ou aliados. Ou seja, o marxismo cultural é aplicado sobre um mundo de pureza, de liberdade e de reflexão racional e deliberativa, causando caos e anestesia mental sobre aqueles que estão sob seu domínio.

Porque eu digo isso? Quando nós afirmamos que existe uma ilusão que domina a vida das pessoas e que essa ilusão é causada por determinados grupos que insistem em impor uma determinado modo de vida, o que nós estamos dizendo é que sem essa ilusão imposta por este grupo maquiavélico, o modo de vida original (e natural) seria novamente vivido. Ou seja, existe uma verdade, uma forma livre de se viver, e existe uma imposição exterior e estranha às vontades das pessoas. A partir dessa afirmação é possível concluir duas coisas:

1) As pessoas não são agentes sociais como condição sui generis. Elas podem ser agentes sociais desde que estejam livres de amarras (ilusões) impostas exteriormente (como o marxismo cultural).

2) Se a intenção do marxismo cultural é a implementação do comunismo de forma gradual e se ele é o objeto estranho que impõe um dado modo de vida às pessoas e as controlam (como o Marx da imagem no topo do texto), então a vida na sociedade capitalista é considerada o modo de vida natural, porque seria a condição perfeita para a livre-escolha e, portanto, para a primazia da vontade individual sobre a vontade coletiva.

Agentes sociais

A percepção da unidade biológica humana enquanto um sujeito está relacionada com a noção de que ele, o sujeito, é um ser sob o mando soberano. O sujeito é aquele que está assujeitado. Ao mesmo tempo, o sujeito é aquele que é moldado conforme o poder que ele está submetido e que o reproduz na mesma medida em que foi constituído.

O agente social, pelo contrário, é atividade constante. Ele não é moldado pelo mundo exterior pura e simplesmente: ele é um alguém que altera o mundo na mesma proporção em que é constituído por ele. O agente social é aquele que toma posições e altera a perspectiva da estrutura social, mesmo que microscopicamente. Ele não é manipulado, não é alguém alienado em ilusões.

É importante salientar esta diferença porque é sobre este ponto que pessoas como Olavo de Carvalho, Rodrigo Constantino, Reinaldo Azevedo, Felipe Moura Brasil e toda essa turma se pautam para dizer que existe uma parcela enorme do povo sendo manipulada (os tutelados) e um pequeno pedaço não manipulado (os tutores, que coincidentemente são eles).

No bojo dos manipulados, estão inclusive os pesquisadores da academia (que podem, além de manipulados, ser manipuladores). Eles são os soldadinhos treinados para reproduzir a “ideologia comunista-gayzista” por todo o Brasil. No fundo, toda e qualquer ideia que se afaste de uma visão ultra individualista e cristã do mundo é fruto de um indivíduo manipulado ou manipulador.

Na verdade, o que se vê é uma forma de dizer quem deve ser escutado e quem não deve. Quem pode falar e quem não pode. Quando nós falamos que a agência é um privilégio de poucos, nós estamos dizendo que esses poucos valem mais. Eles são aqueles que devem ser obedecidos – mesmo que não digam ser líderes. Os alienados que votaram na Dilma não merecem ser escutados, seus votos nem mesmo merecem ser contados, é necessário duvidar da validade do voto de alguém que faz tal heresia.

A autoridade do discurso da verdade não é do povo, não é dos cientistas e não é da mídia: é de alguns iluminados que conseguiram encontrar a verdadeira essência do ser, o livre-mercado e o cristianismo. Mas essa essência, de onde ela vem?

O modo de vida natural

O indivíduo é constituído por tipos de saber e configurações de poder de uma dada época em um dado ponto do globo. Ele é o que é por conta das relações de poder estabelecidas entre indivíduos e outros indivíduos e entre indivíduos e instituições, mas também por conta dos discursos que o atravessam, que são impostos por essas relações de poder e que, ao mesmo tempo, dão legitimidade para sua imperiosidade.

Isso significa que não há um modo de vida natural depois do indivíduo ser introduzido na cultura. Não é possível falar em modo de vida neutro, natural ou imparcial depois de submeter o indivíduo à linguagem e não há nenhuma programação na mente humana que indique como a vida deve ser vivida originalmente em sociedade. Basicamente, quando nós falamos sobre cultura e sobre a condição humana sob ela, estamos afirmando que nenhuma configuração deste sistema simbólico é natural.

A cultura é, pelo contrário, uma repressão de instintos e uma abertura de possibilidades infinitas dentro dos significantes disponíveis e das significações imagináveis. É a oposição em relação à natureza, como já observado por Levi-Strauss. A cultura é a previsibilidade, a natureza é o caos.

Sendo assim, a vida “natural” é uma constante violência nua, um desarranjo interminável de práticas voltadas unicamente para a satisfação de prazeres sexuais e para a conservação de si. Já a vida em sociedade, que pressupõe a cultura, é o lar das regras e da repressão constante dos instintos. A consciência precisa ser marcada, para que uma estrutura mental possa definir as possibilidades de ações e de compreensão do mundo. É necessário que um habitus, um sistema de disposições, seja formado. O agente social não é pura ação e não é pura determinação.

Com isso, somente quero dizer que um modo de vida, seja ele qual for, sempre será legítimo. A legitimidade de algo não é determinada por uma conclusão ontológica sobre o ser e sobre a história, mas sim pela força com que este algo é imposto. É legítimo aquilo que consegue movimentar mais poder a seu favor e se utilizar de um tipo de saber para lhe justificar.

Mas o que significa dizer que existe um modo de vida natural? Dizer que existe um modo de vida “original”, que não é uma ilusão, é uma forma de dar autoridade para um modo de viver particular. É um jeito de universalizar o particular. É pura ideologia. Quando eu digo que o jeito que eu acho melhor de se viver é o jeito original, correto e livre, o que eu estou fazendo é dizer que este é o jeito que deve ser vivido. Estou impondo um interesse particular.

Portanto, dizer que uma alternativa, seja ela qual for, ao livre-mercado e aos valores cristãos é uma ilusão, é um plano maquiavélico, é ao mesmo tempo dizer que o modo de vida original, escolhido por consenso, natural, legítimo, é aquele que está sendo ameaçado, é o modo de vida capitalista.

Conclusão

O marxismo cultural é uma arma. É um discurso que se julga verdade ao denunciar tudo que não está em seus interesses como inimigo público número um. Se é necessário apontar para um inimigo em comum, que irá ser o objetivo da união dos singulares, então que ele seja o comunismo: tudo que não nos agrada é culpa do comunismo.

Ao mesmo tempo, é esse discurso que tenta justificar instituições desgastadas como a polícia. O aparelho policial inteiro é justificado pelo discurso do marxismo cultural, que se apoia na força dos homens honrados para proteger a nação. O que vemos com este discurso é a propagação do reacionarismo com roupagem nova, é a tentativa de aproveitar um momento de falta de engajamento geral para culpar o comunismo pela descrença geral na política.

Eu iria mais longe e diria que o comunismo é só o pretexto, é só o inimigo necessário, mas o objetivo em si é fortalecer tudo de conservador que existe e tentar anular algumas das pautas mais liberais conseguidas no Brasil devido às mudanças que o tempo trás consigo. No fim, uma briga dentro da própria direita, pelo direito de conquistar um espaço e que pode ser provada pelas intrigas infantis entre Olavo de Carvalho e Rodrigo Constantino (o liberalzão da turma) vide os vídeos no anexo abaixo.

É aqui que percebe-se que o liberalismo come a própria teoria ao afirmar a possibilidade da enganação sistemática, da possibilidade do sujeito ser presa de uma ilusão constante. A liberdade, que deveria ser o valor máximo e a realidade a priori de qualquer teoria liberal, é alienada (no sentido marxista) de sua própria teoria mãe em prol de uma estratégia mais eficiente de poder. De calar uns para dar voz a outros.


Terras Indígenas no Brasil

O que são Terras Indígenas?

No Brasil, quando se fala em Terras Indígenas, há que se ter em mente, em primeiro lugar, a definição e alguns conceitos jurídicos materializados na Constituição Federal de 1988e também na legislação específica, em especial no chamado Estatuto do Índio (Lei 6.001/73), que está sendo revisto pelo Congresso Nacional.

A Constituição de 1988 consagrou o princípio de que os índios são os primeiros e naturais senhores da terra. Esta é a fonte primária de seu direito, que é anterior a qualquer outro. Conseqüentemente, o direito dos índios a uma terra determinada independe de reconhecimento formal.

A definição de terras tradicionalmente ocupadas pelos índios encontra-se no parágrafo primeiro do artigo 231 da Constituição Federal: são aquelas "por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seu usos, costumes e tradições".

No artigo 20 está estabelecido que essas terras são bens da União, sendo reconhecidos aos índios a posse permanente e o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.

Não obstante, também por força da Constituição, o Poder Público está obrigado a promover tal reconhecimento. Sempre que uma comunidade indígena ocupar determinada área nos moldes do artigo 231, o Estado terá que delimitá-la e realizar a demarcação física dos seus limites. A própria Constituição estabeleceu um prazo para a demarcação de todas as Terras Indígenas (TIs): 5 de outubro de 1993. Contudo, isso não ocorreu, e as TIs no Brasil encontram-se em diferentes situações jurídicas.

Grande parte das Terras Indígenas no Brasil sofre invasões de mineradores, pescadores, caçadores, madeireiras e posseiros. Outras são cortadas por estradas, ferrovias, linhas de transmissão ou têm porções inundadas por usinas hidrelétricas. Freqüentemente, os índios colhem resultados perversos do que acontece mesmo fora de suas terras, nas regiões que as cercam: poluição de rios por agrotóxicos, desmatamentos etc.

Primavera árabe

Primavera Árabe é uma expressão criada para designar a onda de protestos que marcou os países árabes a partir do final do ano de 2010.
A Primavera Árabe atua como um efeito dominó sobre as ditaduras árabesA Primavera Árabe não se trata de um evento, de algo breve ou de uma estação do ano, trata-se de um período de transformações históricas nos rumos da política mundial. Entende-se por Primavera Árabe a onda de protestos e revoluções ocorridas no Oriente Médio e norte do continente africano em que a população foi às ruas para derrubar ditadores ou reivindicar melhores condições sociais de vida.

Tudo começou em dezembro de 2010 na Tunísia, com a derrubada do ditador Zine El Abidini Ben Ali. Em seguida, a onda de protestos se arrastou para outros países. No total, entre países que passaram e que ainda estão passando por suas revoluções, somam-se à Tunísia: Líbia, Egito, Argélia, Iêmen, Marrocos, Bahrein, Síria, Jordânia e Omã. Veja abaixo as principais informações a respeito de cada uma dessas revoluções.

Tunísia: Os protestos na Tunísia, os primeiros da Primavera Árabe, foram também denominados por Revolução de Jasmin. Essa revolta ocorreu em virtude do descontentamento da população com o regime ditatorial, iniciou-se no final de 2010 e encerrou-se em 14 de Janeiro de 2011 com a queda de Ben Ali, após 24 anos no poder.

O estopim que marcou o início dessa revolução foi o episódio envolvendo o jovem Mohamed Bouazizi, que vivia com sua família através da venda de frutas e que teve os seus produtos confiscados pela polícia por se recusar a pagar propina. Extremamente revoltado com essa situação, Bouazizi ateou fogo em seu próprio corpo, marcando um evento que abalou a população de todo o país e que fomentou a concretização da revolta popular.

Manifestantes tunisianos manifestam pelo fim da ditadura em seu país ¹
Manifestantes tunisianos manifestam pelo fim da ditadura em seu país ¹

Líbia: a revolta na Líbia é conhecida como Guerra Civil Líbia ou Revolução Líbia e ocorreu sob a influência das revoltas na Tunísia, tendo como objetivo acabar com a ditadura de Muammar Kadhafi. Em razão da repressão do regime ditatorial, essa foi uma das revoluções mais sangrentas da Primavera Árabe. Outro marco desse episódio foi a intervenção das forças militares da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), comandadas, principalmente, pela frente da União Europeia.

O ditador líbio foi morto após intensos combates com os rebeldes no dia 20 de Outubro de 2011.

Egito: A Revolução do Egito foi também denominada por Dias de FúriaRevolução de Lótus e Revolução do Nilo. Ela foi marcada pela luta da população contra a longa ditadura de Hosni Mubarak. Os protestos se iniciaram em 25 de Janeiro de 2011 e se encerraram em 11 de Fevereiro do mesmo ano. Após a onda de protestos, Mubarak anunciou que não iria se candidatar novamente a novas eleições e dissolveu todas as frentes de estruturação do poder. Em Junho de 2011, após a realização das eleições, Mohammed Morsi foi eleito presidente egípcio, porém, também foi deposto no ano de 2013.

Protestos pediram o fim do governo de Hosni Mubarak no Egito ²
Protestos pediram o fim do governo de Hosni Mubarak no Egito ²

Argélia: A onda de protestos na Argélia ainda está em curso e objetiva derrubar o atual presidente Abdelaziz Bouteflika, há 12 anos no poder. Em virtude do aumento das manifestações de insatisfação diante de seu mandato, Bouteflika organizou a realização de novas eleições no país, mas acabou vencendo em uma eleição marcada pelo elevado número de abstenções. Ainda existem protestos e, inclusive, atentados terroristas que demonstram a insatisfação dos argelinos frente ao governo.

Síria: Os protestos na Síria também estão em curso e já são classificados como Guerra Civil pela comunidade internacional. A luta é pela deposição do ditador Bashar al-Assad, cuja família encontra-se no poder há 46 anos. Há a estimativa de quase 20 mil mortos desde que o governo ditatorial decidiu reprimir os rebeldes com violência.