segunda-feira, 7 de julho de 2014

Oriente Médio, a vitoria do ódio.


O sequestro e o assassinato de três jovens judeus alimentam sentimentos de vingança e colocam Israel e o grupo radical Hamas cada vez mais próximos de um enfrentamento

Mariana Queiroz Barboza (mariana.barboza@istoe.com.br)

O que acontece quando três jovens que esperavam uma carona na saída de uma escola religiosa são encontrados mortos 18 dias depois? Em qualquer lugar do mundo, o sequestro seguido de morte é encarado como um trágico crime a ser investigado. Na região da Cisjordânia, no Oriente Médio, as consequências são muito maiores: impulsiona uma escalada da violência, troca de acusações entre chefes de Estado e juras de vingança. Foi o que se viu por lá nas duas últimas semanas. As buscas do Exército israelense por Eyal Yifrah, 19 anos, Naftali Fraenkel, 16, e Gilad Shaar, 16, resultaram em mais de 400 prisões e ao menos seis mortes de palestinos. Naquela altura, a reação de Israel ao desaparecimento dos três adolescentes judeus já era considerada desproporcional pela comunidade internacional. Após a descoberta de que os adolescentes haviam sido assassinados, o pior aconteceu. Na quarta-feira 2, dois dias depois que os corpos dos israelenses foram achados na cidade de Hebron, um adolescente palestino, que esperava uma mesquita abrir para a primeira oração do dia, foi sequestrado e assassinado em Jerusalém Ocidental. A principal suspeita da polícia de Israel é de que Muhammad Hussein Abu Khdeir, 16 anos, tenha sido vítima de retaliação.

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CHORO E RETALIAÇÃO
A morte de três adolescentes israelenses ampliou as tensões na
região da Cisjordânia. Durante as buscas, foram efetuadas
400 prisões e pelo menos seis palestinos morreram

Era o que os militantes palestinos precisavam para se sentir autorizados a fazer represálias e, então, disparar foguetes de Gaza, controlada pelo Hamas, em direção a Israel. O temor de um enfrentamento ensaiado há quase dez anos pelo Hamas, grupo islamita radical que não reconhece a existência de um Estado judeu, e por Israel cresceu ao longo da semana. Tropas israelenses foram mobilizadas para Gaza, enquanto militares pediam pela restauração da sensação de segurança e pela redução do nível de violência. “Israel é um Estado de direito e todos são obrigados a agir de acordo com a lei,” disse o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, na tentativa de desencorajar atos vingativos. Nas ruas de Jerusalém, porém, as demonstrações de ódio eram evidentes. Centenas de palestinos atiraram pedras em policiais e israelenses, que gritavam “morte aos árabes”. O sentimento foi transposto para as redes sociais e quatro soldados israelenses acabaram condenados à prisão militar temporária, depois de serem identificados em comunidades revanchistas no Facebook.

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Em entrevista ao site Al Monitor, o porta-voz do Hamas, Sami Abu Zuhri, disse que, “se ocorrer um confronto, o mundo descobrirá a fragilidade de nosso inimigo”. Zuhri argumentou que o Hamas ganhou experiência nos últimos anos e foi capaz de desenvolver armas mais sofisticadas. Os dois lados, no entanto, dizem que a intensificação do conflito não interessa. “O governo de Israel tem sido pressionado por extremistas da direita e por parte da população que quer ver uma resposta mais dura”, disse à ISTOÉ Benjamin White, pesquisador do Instituto para o Entendimento do Oriente Médio, do Reino Unido. “Isso é o que acontece quando há um vácuo nas negociações de paz.” Segundo ele, desde o fim dos diálogos mediados pelo secretário de Estado americano, John Kerry, em abril, mais de 70 palestinos já foram assassinados. O prazo de nove meses imposto pelos Estados Unidos para mediar um pacto pela paz terminou com a construção de 700 novos assentamentos israelenses na Cisjordânia, a adesão unilateral da Palestina a 15 tratados internacionais e a reconciliação entre o Hamas e o Fatah para a criação de um governo de unidade na Palestina.

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Em junho, uma esperança de retomada dos diálogos foi alimentada depois de uma visita do papa Francisco à Terra Santa. A pedido do pontífice, o presidente de Israel, Shimon Peres, e o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, se reuniram no Vaticano para orar pela paz. Mas, como mostram os acontecimentos das últimas semanas, restam poucas dúvidas de que, na Cisjordânia, o ódio prevalece.

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