terça-feira, 22 de julho de 2014
Opinião simples.
quarta-feira, 16 de julho de 2014
BRICS agora é realidade
Os presidentes de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, que compõem o Brics, assinaram nesta terça-feira (15) um acordo que oficializa a criação do chamado Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), cujo objetivo será o financiamento de projetos de infraestrutura em países emergentes.
O Brasil poderá indicar o primeiro presidente do Conselho de Administração do banco. Já a Índia terá o direito de indicar o primeiro presidente e, a Rússia, o presidente do Conselho de Governadores. A China venceu a disputa para sediar a instituição, que ficará em Xangai. A África do Sul vai sediar o Centro Regional Africano do banco.
O Conselho de Administração terá entre suas funções decidir sobre planos de investimento e de expansão. O Conselho de Governadores vai ser responsável por supervisionar o cumprimento de diretrizes. Haverá ainda uma diretoria que vai analisar os projetos apresentados e implementar os empréstimos.
Pelos termos do acordo, haverá rotatividade na presidência do banco. Depois da Índia, o Brasil terá direito a chefiar a instituição, seguido por Rússia, África do Sul e China. Os mandatos serão de 5 anos. A criação do banco precisa ser aprovada pelos Congressos dos países para sair do papel.
A formalização do NBD, após pelo menos dois anos de negociações, aconteceu durante a reunião de cúpula em Fortaleza. Essa é a primeira ação concreta do Brics e chega num momento em que o grupo perde prestígio junto aos investidores, devido à desaceleração do crescimento das economias – especialmente do Brasil.
Até agora, as reuniões de cúpula (esta é a sexta) tinham servido basicamente como palco para discursos. Os cinco países também demonstraram dificuldade para chegar a acordos – por exemplo, para apoiar um nome de consenso para disputar a presidência do Banco Mundial em 2012. A expectativa agora é de que a parceria avance com mais velocidade.
Capital de US$ 50 bilhões
O NBD vai ter capital inicial de US$ 50 bilhões, divididos igualmente entre os membros fundadores. Entretanto, diz comunicado, há uma autorização para que esse valor chegue a US$ 100 bilhões. Os empréstimos também poderão ser concedidos a países emergentes fora do Brics.
De acordo com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, os países terão prazo de 7 anos para disponibilizar o valor, em parcelas crescentes. No caso do Brasil, o aporte virá de recursos do Tesouro. O acordo também permite que novos países se associem ao banco. Entretanto, os cinco fundadores deverão manter um mínimo de 55% de participação conjunta.
Mantega disse que ainda é “muito cedo” para falar dos juros sobre os empréstimos, mas apontou que serão “taxas razoáveis.” Ele afirmou ainda que “exigências normais” serão feitas aos países candidatos a financiamento, entre elas de contrapartidas ambientais e sociais.
Dinheiro em falta
A presidente Dilma Rousseff disse em seu discurso que a criação do banco é um passo importante para o "aperfeiçoamento da arquitetura de financiamento global.” De acordo com ela, nações que hoje não encontram crédito em instituições tradicionais poderão recorrer a ele.
“O banco representa uma alternativa para as necessidades de financiamento de infraestrutura dos países em desenvolvimento, compreendendo e compensando a insuficiência de crédito nas principais instituições financeiras internacionais”, disse Dilma.
O presidente da China, Xi Jinping, disse que o NBD vai ajudar no desenvolvimento dos países e contribuir para aumentar a influência dos membros do Brics. “Esse desejo político para o desenvolvimento comum ajudará a aumentar o nível da voz do Brics mas, mais importante, ajudará a trazer benefícios aos nossos e a outros países pela via do desenvolvimento”, disse.
Xi disse ainda que a China, como sede do banco, vai manter a cooperação com os parceiros do grupo visando seu bom funcionamento. Ele afirmou que espera que a instituição comece a funcionar o mais rápido possível.
O primeiro ministro da Índia, Narendra Modi, que vai indicar o primeiro presidente do banco, disse que a instituição terá o poder de intensificar a ajuda financeira a países em “tempos econômicos instáveis.” De acordo com ele, a partir da criação do banco o Brics poderá ter mais ambição e se transformar em uma “plataforma de impacto global.”
Durante entrevista ao final da reunião em Fortaleza, a presidente Dilma negou que o Brasil tenha desistido da presidência do banco para viabilizar o acordo. “A Índia propôs a criação do banco, então achamos que seria justo que a primeira presidência ficasse com quem propôs”, afirmou a presidente.
Fundo anticrise
Durante o encontro também foi oficializada a criação de um fundo anticrise, anunciado em junho de 2012 e que era alvo de negociações entre os cinco países. A ideia é que esse seja um mecanismo de socorro aos países em caso de turbulências financeiras, parecido com o que faz o Fundo Monetário Internacional (FMI). Ele poderá ser acionado quando os governos estiverem com problemas temporários no balanço de pagamentos (total de recursos que entram e saem do país).
O país que pedir recursos receberá em dólares e, em contrapartida, fornecerá sua moeda aos países contribuintes, em montante e por período determinados. Isso aliviará os governos de ter de fazer esse tipo de transação apenas em dólares, poupando as reservas internacionais.
O fundo dos Brics terá US$ 100 bilhões. A China ficará responsável por US$ 41 bilhões deste total. Brasil, Índia e Rússia, por US$ 18 bilhões cada, e África do Sul, por US$ 5 bilhões.
Para começar a funcionar, o fundo dependerá de aprovação em cada país. No caso do Brasil, será necessária votação no Congresso Nacional.
FMI e Banco Mundial
A presidente também afirmou que a criação do banco e do fundo anticrise é “uma resposta concreta” à demora na implementação de reformas na governança do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI). Essas reformas, que visam dar mais poder de voz aos países emergentes nesses órgãos, foram aprovadas em 2010 mas, apesar da pressão do Brics, ainda não saíram do papel.
“[A demora na implementação das reformas] faz com que façamos a nossa parte e não fiquemos só reivindicando”, disse Dilma. Segundo ela, porém, a decisão desta terça não afasta a possibilidade de os países continuarem a operar com esses órgãos.
Olhar generoso
A presidente disse ainda que não está definido como será a relação do banco dos Brics e do fundo anticrise com países de fora do grupo. Ela afirmou, porém, que eventuais pedidos de empréstimo serão analisados, inclusive da Argentina.
“Vamos olhar com toda a generosidade para os países em desenvolvimento. Se a Argentina vai ser beneficiada, é algo que vai ser avaliado. Primeiro é preciso que a Argentina peça”, disse.
Brics
O acrônimo Brics foi criado no início da década passada por um economista do Goldman Sachs para designar os países emergentes que, nos anos seguintes, seriam foco de crescimento econômico no mundo e da atenção dos investidores. Na época, estavam incluídos Brasil, Rússia, Índia e China, que, alguns anos depois, aproveitariam a atenção despertada para dar início à aliança.
A primeira reunião formal de cúpula aconteceu apenas em 2009. A união de forças tinha como principal meta elevar o poder dos quatro países no G20 – o grupo que reúne as 20 maiores economias mundiais – para pressionar por uma reforma do sistema financeiro, abalado pela crise, e mudanças na governança de organismos como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, controlados por EUA e seus aliados.
quarta-feira, 9 de julho de 2014
Conselho de Segurança vai analisar conflito árabe israelense
Reuters
O secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), Ban Ki-moon, irá se dirigir ao Conselho de Segurança da entidade na quinta-feira para tratar da escalada das hostilidades entre Israel e os palestinos, que ele descreveu como uma situação "perturbadora e volátil". O organismo, que conta com 15 membros, irá se reunir às 11h de quinta-feira (10) para discutir a violência que ameaça descambar para as piores hostilidades entre Israel e os militantes do Hamas em Gaza desde a guerra de oito dias, em 2012.
Ruanda, que preside o conselho até julho, disse que Ban e os embaixadores israelense e palestino farão uma declaração pública antes das consultas a portas fechadas.
Os ataques aéreos de Israel atingiram Gaza em intervalos de poucos minutos nesta quarta-feira (9). Militantes mantiveram os disparos de foguetes no coração de Israel em um conflito crescente que autoridades palestinas disseram já ter matado pelo menos 47 pessoas. "Gaza está no fio da navalha", afirmou Ban. "Condeno firmemente os múltiplos ataques com foguetes de Gaza para Israel. Tais ataques são inaceitáveis e devem parar".
"Também exorto [o primeiro-ministro israelense Benjamin] Netanyahu a exercer o máximo comedimento e a respeitar as obrigações internacionais para proteger os civis. Condeno o número crescente de vidas civis perdidas em Gaza", declarou o secretário.
Ban passou o dia falando com líderes regionais e mundiais, incluindo Netanyahu; o presidente palestino, Mahmoud Abbas; o secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry; o presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sisi; o rei da Arábia saudita e o emir do Qatar.
"Os líderes regionais têm um papel vital a desempenhar, e exorto o presidente Sisi e outros para que ajudem a facilitar um retorno ao acordo de cessar-fogo de novembro de 2012", declarou Ban. "O risco de expansão da violência é real. Gaza, e a região como um todo, não podem se dar ao luxo de outra guerra em larga escala".
O Cairo mediou uma trégua no conflito dois anos atrás, mas a hostilidade do atual governo militar em relação aos islâmicos em geral e ao Hamas, a quem acusa de auxiliar companheiros militantes na península egípcia do Sinai, pode dificultar uma mediação. O Hamas nega as alegações.
- Estado palestinoOs palestinos querem um Estado plenamente soberano e independente na Cisjordânia e na faixa de Gaza, com a capital em Jerusalém Oriental. Israel quer um Estado palestino desmilitarizado, presença militar no Vale da Cisjordânia da Jordânia e manutenção do controle de seu espaço aéreo e das fronteiras exteriores
- Fronteiras e assentamentos judeusOs palestinos querem que Israel saia dos territórios que ocupou após a Guerra dos Seis Dias (1967) e desmantele por completo os assentamentos judeus. Qualquer área dada aos israelenses seria recompensada. Israel descarta voltar às fronteiras anteriores a 1967, mas aceita deixar partes da Cisjordânia se puder anexar os maiores assentamentos. Israel já retirou tropas e população da faixa de Gaza.
- JerusalémIsrael anexou a área árabe da Jordânia após 1967 e não aceita a dividir Jerusalém por considerar o local o centro político e religioso da população judia. Já os palestinos querem o leste de Jerusalém como capital do futuro Estado da Palestina. O leste de Jerusalém é considerado um dos lugares sagrados do Islã. A comunidade não reconhece a anexação feita por Israel.
- RefugiadosHá cerca de 5 milhões de refugiados palestinos, a maioria deles descendentes dos 760 mil palestinos que foram expulsos de suas terras na criação do Estado de Israel, em 1948. Os palestinos exigem que Israel reconheça seu "direito ao retorno", o que Israel rejeita por temer a destruição do Estado de Israel pela demografia. Já Israel quer que os palestinos reconheçam seu Estado.
- SegurançaIsrael teme que um Estado palestino caia nas mãos do grupo extremista Hamas e seja usado para atacar os judeus. Por isso, insiste em manter medidas de segurança no vale do rio Jordão e pedem que o Estado palestino seja amplamente desmilitarizado. Já os palestinos querem que seu Estado tenha o máximo de atributos de um Estado comum.
- ÁguaIsrael controla a maioria das fontes subterrâneas da Cisjordânia. Os palestinos querem uma distribuição mais igualitária do recurso.
segunda-feira, 7 de julho de 2014
Oriente Médio, a vitoria do ódio.
O sequestro e o assassinato de três jovens judeus alimentam sentimentos de vingança e colocam Israel e o grupo radical Hamas cada vez mais próximos de um enfrentamento
Mariana Queiroz Barboza (mariana.barboza@istoe.com.br)O que acontece quando três jovens que esperavam uma carona na saída de uma escola religiosa são encontrados mortos 18 dias depois? Em qualquer lugar do mundo, o sequestro seguido de morte é encarado como um trágico crime a ser investigado. Na região da Cisjordânia, no Oriente Médio, as consequências são muito maiores: impulsiona uma escalada da violência, troca de acusações entre chefes de Estado e juras de vingança. Foi o que se viu por lá nas duas últimas semanas. As buscas do Exército israelense por Eyal Yifrah, 19 anos, Naftali Fraenkel, 16, e Gilad Shaar, 16, resultaram em mais de 400 prisões e ao menos seis mortes de palestinos. Naquela altura, a reação de Israel ao desaparecimento dos três adolescentes judeus já era considerada desproporcional pela comunidade internacional. Após a descoberta de que os adolescentes haviam sido assassinados, o pior aconteceu. Na quarta-feira 2, dois dias depois que os corpos dos israelenses foram achados na cidade de Hebron, um adolescente palestino, que esperava uma mesquita abrir para a primeira oração do dia, foi sequestrado e assassinado em Jerusalém Ocidental. A principal suspeita da polícia de Israel é de que Muhammad Hussein Abu Khdeir, 16 anos, tenha sido vítima de retaliação.
Era o que os militantes palestinos precisavam para se sentir autorizados a fazer represálias e, então, disparar foguetes de Gaza, controlada pelo Hamas, em direção a Israel. O temor de um enfrentamento ensaiado há quase dez anos pelo Hamas, grupo islamita radical que não reconhece a existência de um Estado judeu, e por Israel cresceu ao longo da semana. Tropas israelenses foram mobilizadas para Gaza, enquanto militares pediam pela restauração da sensação de segurança e pela redução do nível de violência. “Israel é um Estado de direito e todos são obrigados a agir de acordo com a lei,” disse o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, na tentativa de desencorajar atos vingativos. Nas ruas de Jerusalém, porém, as demonstrações de ódio eram evidentes. Centenas de palestinos atiraram pedras em policiais e israelenses, que gritavam “morte aos árabes”. O sentimento foi transposto para as redes sociais e quatro soldados israelenses acabaram condenados à prisão militar temporária, depois de serem identificados em comunidades revanchistas no Facebook.
Em entrevista ao site Al Monitor, o porta-voz do Hamas, Sami Abu Zuhri, disse que, “se ocorrer um confronto, o mundo descobrirá a fragilidade de nosso inimigo”. Zuhri argumentou que o Hamas ganhou experiência nos últimos anos e foi capaz de desenvolver armas mais sofisticadas. Os dois lados, no entanto, dizem que a intensificação do conflito não interessa. “O governo de Israel tem sido pressionado por extremistas da direita e por parte da população que quer ver uma resposta mais dura”, disse à ISTOÉ Benjamin White, pesquisador do Instituto para o Entendimento do Oriente Médio, do Reino Unido. “Isso é o que acontece quando há um vácuo nas negociações de paz.” Segundo ele, desde o fim dos diálogos mediados pelo secretário de Estado americano, John Kerry, em abril, mais de 70 palestinos já foram assassinados. O prazo de nove meses imposto pelos Estados Unidos para mediar um pacto pela paz terminou com a construção de 700 novos assentamentos israelenses na Cisjordânia, a adesão unilateral da Palestina a 15 tratados internacionais e a reconciliação entre o Hamas e o Fatah para a criação de um governo de unidade na Palestina.
Em junho, uma esperança de retomada dos diálogos foi alimentada depois de uma visita do papa Francisco à Terra Santa. A pedido do pontífice, o presidente de Israel, Shimon Peres, e o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, se reuniram no Vaticano para orar pela paz. Mas, como mostram os acontecimentos das últimas semanas, restam poucas dúvidas de que, na Cisjordânia, o ódio prevalece.
sábado, 5 de julho de 2014
Ebola está sem controle na África .
Com o aumento exponencial no número de casos de Ebola na África Ocidental, a organização médica internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) alerta para o risco de uma epidemia regional.
"O surto está fora de controle', afirmou à BBC Brasil Mariano Lugli, diretor de operações do MSF na Suíça.
A equipe de Lugli lidera a assistência humanitária na região desde fevereiro. Com cerca de 300 profissionais em campo, a organização já atendeu cerca de 500 pacientes e está no limite de sua capacidade operacional.
Em quatro meses, o surto de Ebola que surgiu em Guiné já se espalhou para dois países vizinhos, Libéria e Serra Leoa.
"Há um movimento constante e intenso de pessoas cruzando fronteiras nesta região e os casos estão se espalhando rapidamente para mais províncias e países", explicou Lugli.
A doença já se alastrou para mais de 60 localidades diferentes na África Ocidental e ainda não atingiu seu pico.
"Em geral, isso deveria ter acontecido entre dois e cinco meses, mas é impossível prever especialmente porque agora há uma variante do vírus que causa febre hemorrágica e é muito perigosa", afirmou Lugli.
Até agora, 759 pessoas foram infectadas pelo vírus e 468 morreram. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), este é o maior surto de Ebola já registrado na história.
O vírus mata cerca de 90% das pessoas infectadas e o contágio acontece por contato direto com fluidos corporais, como sangue e secreções, de uma pessoa infectada. Não há vacina ou cura para a doença.
Plano de ação
No início desta semana, a OMS realizou uma reunião de emergência sobre o surto. Ministros de 11 países africanos se reuniram em Acra, Gana, para discutir como controlar o surto de Ebola.
No encontro, as autoridades concordaram em ampliar a coordenação e monitoramento da doença, com foco nas regiões fronteiriças. Para isso, a OMS anunciou a criação de um centro regional de apoio técnico em Guiné.
No entanto, a organização ainda não prescreve nenhum tipo de restrição a viagens para a África Ocidental ou entre países da região. Segundo a OMS, o risco de disseminação da doença é considerado alto nos países fronteiriços, moderado no restante do continente africano e baixo no restante do mundo.
"Agora a comunidade internacional reconheceu o problema e todo mundo entende a necessidade de coordenação, mas é preciso ver como isso se traduzirá em ação", afirmou Lugli.
Apoio local e internacional
Mobilizar líderes comunitários, religiosos e políticos para ampliar o conhecimento sobre a doença também foi outro destaque do plano da OMS.
"A coisa mais importante agora é sensibilizar a população e os agentes de saúde locais, além da maior coordenação entre as autoridades regionais para controle e supervisão de casos em aeroportos e portos", disse Lugli.
Há quatro meses, ele esteve em Guékédou, na fronteira de Guiné com a Libéria, quando foram registrados os primeiros casos.
"As pessoas estavam com muito medo e os médicos locais não conheciam a doença", explicou.
Na região, é comum o uso de medicina popular e curandeiros. Médicos têm pouca experiência em lidar com isolamento –a única alternativa de tratamento para o Ebola.
"Os pacientes que sobrevivem são aqueles que naturalmente desenvolvem anticorpos contra o vírus, mas para isso é preciso tempo e isolamento", explicou Lugli.
Estima-se que cada pessoa contaminada mantenha contato com ao menos outros 20 indivíduos, que também devem ser isolados e monitorados para controle do Ebola. Outro agravante comum é o descuido no manuseio de corpos de vítimas da doença.
Atualmente, o MSF é a única organização internacional humanitária atendendo vítimas do Ebola na África Ocidental.
"Estamos no nosso limite. É urgente que mais atores internacionais competentes também apoiem na resposta ao surto", afirmou Lugli.
Texto extraído da uol
sexta-feira, 4 de julho de 2014
O medo que o PT tem.
Deterioração das relações entre o PT e movimentos sociais leva o governo a enfrentar uma onda de protestos e greves pelo País. Dilma teme que mobilizações, engrossadas por oportunistas, se intensifiquem durante a Copa e prejudiquem a reeleição
O governo respirou aliviado na quinta-feira 15 quando fez um balanço das greves e manifestações do dia. Ao contrário da ameaça de centrais sindicais e movimentos populares de colocarem milhões de manifestantes nas ruas e paralisarem centenas de categorias pelo País, os protestos ficaram aquém da expectativa. A barganha às vésperas da Copa do Mundo, que misturou de velhas demandas a mobilizações oportunistas, parece não ter conquistado ainda o apoio necessário para inundar as ruas, como seus líderes desejavam. Apesar do respiro momentâneo, o governo atravessou a última semana com uma certeza e um caminho a seguir na tentativa de debelar futuras ameaças de paralisações e protestos. A certeza é de que a gestão de Dilma perdeu o controle e a influência exercida desde o governo Lula sobre os movimentos sociais, como os por moradia e de trabalhadores, historicamente ligados ao PT. Não à toa, em Belo Horizonte, servidores públicos municipais cruzaram os braços e, em Pernambuco, instalou-se um clima de pânico com a greve de integrantes da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros. Em meio à atmosfera beligerante, tanques do Exército ocuparam as ruas no Recife. Em São Paulo, movimentos por moradia e grevistas pararam avenidas importantes da capital.
Diferentemente das manifestações de junho, porém, quando as depredações e os protestos foram encabeçados por movimentos anarquistas, os chamados Black Blocs, com os quais o Planalto não conseguia estabelecer um diálogo, o governo desta vez terá caminhos e maneiras de retomar o canal de comunicação com os manifestantes. Para a sorte da presidenta, ao contrário do ano passado, os atuais manifestantes possuem líderes dispostos a sentar à mesa de negociações.
O que eles esperam é uma mudança de postura do governo. Ao contrário de Lula, que mantinha um canal direto com as lideranças sociais, Dilma relegou os movimentos a segundo plano. Nos bastidores, dirigentes de centrais sindicais reclamam que a presidenta mostra-se pouco disposta ao diálogo e age de maneira intransigente diante de pautas de reivindicações. Esse alegado descaso fez com que até a Central Única dos Trabalhadores (CUT), braço sindical do PT, chegasse a reclamar do governo durante a greve de servidores federais em 2012. Já a Força Sindical, segunda maior central do País, passou de aliada de primeira hora a ferrenha opositora de Dilma, sendo uma das articuladoras da onda de greves, em que propaga críticas também à área econômica da gestão federal. “Este governo não atende os trabalhadores”, reclama o presidente da Força Sindical, Miguel Torres, cotado para vice na chapa de Aécio Neves (PSDB) ao Planalto. “Por isso, continuaremos nas ruas dispostos a influenciar, mais uma vez, os destinos do País”, diz ele.
Dirigentes petistas reclamam que Dilma, logo após assumir, desmontou um poderoso aparato que servia como espécie de termômetro dos movimentos sociais no governo Lula. Com larga experiência nas organizações de trabalhadores, o ex-presidente havia nomeado para cargos na máquina federal ex-dirigentes da CUT. Eles tinham, na prática, a função de atuar junto a movimentos estratégicos contornando crises ou alertando o Palácio do Planalto sobre eventuais focos de insatisfação. Sem esse mecanismo, a presidenta acabou sendo pega de surpresa em greves de servidores e nas manifestações de junho.
Para sindicalistas e até integrantes do governo, as paralisações poderão se intensificar dias antes do início da Copa do Mundo. De acordo com uma estimativa da Central Sindical e Popular (CSP-Conlutas), cerca de um milhão de trabalhadores irão às ruas, nos próximos dois meses, em todos os Estados. Já a Força Sindical calcula que quatro milhões de trabalhadores se mobilizarão por melhorias salariais e condições de trabalho. A coincidência entre o período da Copa do Mundo e a data-base (negociações salariais) de importantes categorias, além do momento eleitoral, deu um forte poder de barganha aos trabalhadores. “É uma janela de oportunidade”, diz Ricardo Patah, presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), referindo-se às vantagens de se negociar quando do outro lado há o temor de que ocorram greves que prejudiquem o evento ou mobilizações que atraiam a atenção da imprensa internacional. Outras nações que sediaram os grandes eventos esportivos também registraram ameaças de greve. Às vésperas da Copa do Mundo de 2010, por exemplo, o governo sul-africano enfrentou paralisações até de centrais sindicais historicamente aliadas. No Reino Unido, os trabalhadores da área de serviços públicos também ensaiaram uma greve antes dos jogos olímpicos de 2012.
Pressionados pelos sindicalistas e pelos movimentos sociais, a presidenta Dilma e seus auxiliares tentam sufocar essas ações de todas as formas. Nas últimas semanas, o governo acionou a Justiça para isolar uma possível paralisação na Polícia Federal durante a Copa do Mundo, num movimento estranho à história do PT. Obteve uma liminar, que multa a representação da categoria em R$ 200 mil por dia de greve e proíbe os policiais de adotarem a chamada operação-padrão ou qualquer “outra ação organizada que, direta ou indiretamente, venha a interferir nas rotinas, condutas e nos protocolos estabelecidos e normalmente adotados, no âmbito interno e no tratamento ao público”. Só que, em vez de intimidar a categoria, a medida piorou a relação entre os policiais e o governo. “Se não tivermos nenhuma resposta positiva do governo, paramos na Copa. Isso vai afetar principalmente os aeroportos, por onde poderão conseguir passar procurados pela Interpol, terroristas e outro tipo de gente que não queremos aqui”, declarou André Mello, presidente do sindicado dos servidores da Polícia Federal no Rio de Janeiro.
Em entrevista às páginas vermelhas de ISTOÉ nesta edição, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, diz acreditar que, a despeito do clima adverso, haverá “tranquilidade” para a realização dos Jogos. “Se houver problemas, a Polícia Federal estará preparada”, afirmou. O principal objetivo do governo, no curto prazo, é evitar a todo custo possíveis protestos no dia 12 de junho, data do jogo de abertura da Copa, quando movimentos sociais articulam uma série de manifestações simultâneas no Brasil e no Exterior. A conferir se até lá os canais de comunicação com setores historicamente ligados ao PT serão desobstruídos.
Extraído revista IstoÉ edição 2321.
O PT que mete medo.
O PT que mete medo
Contrariando a estratégia eleitoral que levou o PT ao poder com Lula em 2002, campanha de Dilma tenta disseminar o pânico para estancar a queda de popularidade
Sérgio Pardellas (@sergiopardellas)A estratégia de difundir o medo e criar fantasmas na cabeça do eleitor para tentar demonizar adversários políticos costuma ser de altíssimo risco. Quando utilizada em campanhas eleitorais, equilibra-se num fio de navalha. Qualquer erro no tom pode ser fatal para a candidatura empenhada em recorrer a esse expediente. O retrospecto histórico, no Brasil e no Exterior, elenca casos bem e malsucedidos da tática eleitoral de desqualificar o oponente inoculando o pânico. Mas há uma situação em que adotá-la se torna quase um suicídio eleitoral: quando ela confronta o sentimento de mudança reinante no eleitorado. Praticamente todas as vezes em que isso ocorreu, a estratégia se revelou um equívoco e o candidato terminou derrotado nas urnas. Um exemplo clássico de malogro eleitoral assentado na tática de disseminar o terror em meio a um clima de mudança no País ocorreu em 2002, quando o então candidato Lula, ao encarnar a esperança, triunfou sobre o medo propagandeado por José Serra, candidato do PSDB. Na ocasião, o tucano exibiu em seu programa eleitoral a atriz Regina Duarte dizendo temer o repaginado Luiz Inácio Lula da Silva e aquele novo PT. Hoje, a situação se assemelha à de 2002 em relação ao estado de ânimo do eleitor. Segundo as últimas pesquisas, 74% do eleitorado deseja mudança. Anseia que o próximo presidente altere “muito” ou “quase tudo” na gestão do governo. Mesmo assim, o PT resolveu arriscar. Na última semana, a campanha à reeleição da presidenta Dilma Rousseff levou ao ar uma série de filmetes de um minuto de duração nos quais pessoas são exibidas enxergando a si próprias num passado recente, quando não tinham acesso a emprego, escola, saúde e lazer. Ao fundo, uma trilha sonora em tom e ritmo lúgubres. “Não podemos deixar que os fantasmas do passado voltem e levem tudo que conseguimos com tanto esforço”, afirma o locutor. “Nosso emprego de hoje não pode voltar a ser o desemprego de ontem. Não podemos dar ouvidos a falsas promessas. O Brasil não quer voltar atrás”.
Em suma, o programa petista tenta alardear que, caso Dilma não seja reeleita, as conquistas sociais serão perdidas. O discurso está alinhado com os últimos pronunciamentos públicos da presidenta. Dilma tem insinuado, nas últimas semanas, que os candidatos de oposição Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) podem trazer desemprego e arrocho salarial. O objetivo é claro: estancar a queda de popularidade de Dilma a partir da conquista do eleitorado que melhorou de vida, mas até agora se mostrava refratário à presidenta. O real impacto da nova estratégia só poderá ser aferido com maior precisão nas próximas pesquisas de intenções de voto. Mas a campanha da lavra do marqueteiro do PT, João Santanta, avalizada pela cúpula do partido em reunião prévia, da qual participaram o ex-presidente Lula, o presidente da sigla, Rui Falcão, e o ex-ministro Franklin Martins, já foi capaz de produzir um dado negativo. Nas redes sociais a hashtag #PTmentindoNaTV ocupou o topo dos chamados trending topics (assuntos mais comentados na internet) durante a exibição do programa. Mesmo que o feito possa ser atribuído em parte à guerrilha digital da oposição, é inegável que, para alcançar tamanha repercussão negativa, é necessário que o resultado nada alvissareiro para Dilma e o PT tenha sido impulsionado também pelo mau humor do eleitorado. Ciente disso, a oposição aproveitou para disparar uma saraivada de críticas ao radicalismo da campanha de Dilma e à sua tentativa de incutir o pânico na cabeça do eleitor. Aliado da petista até setembro do ano passado, Eduardo Campos foi o autor do discurso mais contundente. “Bolsa Família não é conquista de partido nenhum, é conquista do povo brasileiro que ninguém vai tirar. Vamos parar com esse terrorismo, com essa falta de respeito de querer discutir o Brasil agora na base da ameaça e do medo. O povo brasileiro não tem medo dessas ameaças”, afirmou o socialista. O tucano Aécio Neves, por sua vez, ironizou: “O medo do desemprego é do PT, que teme perder os empregos que tem no governo”, disparou. O cientista político Gaudêncio Torquato questiona a eficácia da estratégia de tentar disseminar o terror. “O terrorismo linguístico que começa a subir a montanha não chega perto das massas. Apenas reforça posições de camadas já sedimentadas”, diz ele. “Campanhas negativas podem até aumentar a rejeição ao candidato que as patrocina”, avalia o cientista político José Paulo Martins Jr., da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. O PT, no entanto, dá sinais de que, ao menos por ora, não pretende recuar. “O vídeo tocou muito a militância do partido. Vamos virar o jogo”, anima-se o vice-presidente do PT, o deputado cearense José Guimarães
Apostar na manutenção da tática pode ser um tiro no pé. Desde a redemocratização do País, a retórica do medo se revelou bem-sucedida apenas quando a população, em sua maioria, ansiava pela continuidade. Ou, então, em situações em que a tática fora utilizada por candidatos que personificavam a mudança, nunca pelos que se opunham a esse desejo. Em 1989, a campanha de Fernando Collor aproveitou as declarações do então presidente da Fiesp, Mário Amato, segundo as quais “800 mil empresários deixariam o Brasil” caso Lula ganhasse as eleições, para incutir o medo contra o PT. A tática deu certo e Collor venceu as eleições. Vale lembrar, porém, que, na ocasião, era o então candidato do PRN quem representava no imaginário do eleitor o “novo”, embora representasse na verdade as velhas oligarquias do Nordeste, e encarnava a mudança desejada pela população com promessas de acabar com os marajás. Lula, ao contrário, ainda remetia a João Goulart e à funesta consequência do fantasma comunista: golpe militar e duas décadas de ditadura. Em 1998, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sagrou-se vitorioso, no primeiro turno, ao disseminar o temor pela volta da inflação. Na ocasião, entretanto, o ambiente era de continuidade, como em 2010, quando Serra tentou demonizar o PT associando-o às Farcs e fracassou nas urnas. Nas eleições no Exterior também são fartos os exemplos da tática do medo, e os efeitos de sua utilização costumam ser semelhantes aos daqui. Em 2008, nos EUA, a vice do candidato Republicano John McCain, Sarah Palin, espalhou o terror difundindo que o democrata Barack Obama atentaria contra direitos individuais. O resultado eleitoral todos sabem.
Texto extraído da revista IstoÉ 2321 do dia 21/05/2014
quinta-feira, 3 de julho de 2014
Quem são e de onde vieram os Ciganos?
Ainda hoje, a origem desse povo continua envolta em mistério. Suas histórias sempre foram transmitidas de geração para geração pela tradição oral, o que cria muitas lendas e não deixa registros precisos. Alguns especialistas acreditam que eles surgiram na Índia, já que o idioma falado pelos ciganos tem muitas semelhanças com várias línguas do subcontinente indiano. Mas também existem indícios que apontam para outra região. "Nas antigas lendas ciganas, constatamos referências bíblicas que podem nos direcionar a uma origem na Caldéia (região que hoje pertence ao Iraque) e não na Índia. Outro ponto significativo é a crença em um único Deus criador, Devel, o que os aproxima da história de povos semitas, ao contrário do que seria esperado de uma origem indiana, com suas várias divindades", afirma a geógrafa Solange Lima Guimarães, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), autora de uma tese de doutorado sobre os ciganos.
Caso eles possuam mesmo raízes no Oriente Médio, é provável que tenham surgido alguns milênios antes de Cristo. Qualquer que seja o ponto de partida, sabe-se que eles se deslocaram do Oriente para o Ocidente até chegarem à Europa no fim do século XIV. Nessa época, os ciganos foram perseguidos pela Inquisição, o tribunal da Igreja Católica que julgava crimes contra a fé. Como conviviam tanto com mouros quanto com cristãos, os ciganos oscilavam do paganismo ao cristianismo, o que bastava para serem acusados de heresia. O pior é que os preconceitos em relação à religiosidade, à cultura e ao modo de vida nômade desse povo não ficaram restritos à Idade Média. Séculos mais tarde, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), os alemães mataram cerca de 400 mil ciganos, vítimas da ideologia nazista que defendia uma raça supostamente pura, a ariana, na Europa.
Hoje, calcula-se que existam de 2 a 5 milhões de ciganos no mundo, concentrados principalmente na Europa Central, em países como as Repúblicas Checa e Eslovaca, Hungria, Iugoslávia, Bulgária e Romênia. Durante as andanças pelo mundo, eles influenciaram a cultura de várias regiões. Um bom exemplo vem da Espanha, onde a rica tradição da música e da dança ciganas deu origem ao flamenco.
Não se sabe se os ciganos surgiram na Índia ou no atual Iraque, mas de um desses dois pontos eles rumaram para o Ocidente, chegando à Europa pela região da Armênia, por volta do século XIV. De lá, atravessaram o continente até alcançarem as ilhas britânicas e a península Ibérica. No século XVII, os ciganos já haviam se espalhado por todos os países da Europa e deles seguiram para colônias na América e na África. O documento mais antigo referente à presença dos ciganos no Brasil é de 1574.
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