Na Antiguidade, o território do atual Mali foi sede de três grandes impérios da África Ocidental, que controlavam o comércio de sal, ouro, matérias-primas e outros bens preciosos.[5] Estes reinos careciam tanto de fronteiras geopolíticas quanto de identidades étnicas.[5] O primeiro destes impérios foi o Império Gana, fundada pelo povo soninquês, quefalavamlínguas mandês.[5] O reino se expandiu por toda África Ocidental desde o século VIII até 1078, quando foi conquistado pelos almorávidas.[6]
A extensão do Império Mali.
O Império Mali se formou na parte superior do Rio Níger e chegou à sua força máxima em meados do século XIV.[6] Sob o reinado do Império do Mali, as antigas cidades de Djenné eTimbuktu foram importantes centros de comércio e de aprendizagem islâmica.[6] O reino entrou em declínio e, posteriormente, foi resultado de conflitos internos, e até ser substituído pelo Império Songhai. O povosonghai é originário do noroeste da atual Nigéria, cujo império tinha sido há muito tempo uma potência na África Ocidental sob o controle do Império deMali.[6]
No final do século XIV, o Império Songhai ganhou a independência do Império Mali gradualmente, abrangendo a extremidade oriental deste império.[6] Sua queda foi resultado de uma invasão berbere em 1591,[6] marcando o fim do papel regional da encruzilhada comercial.[6] Após o estabelecimento de rotas marítimas pelas potências europeias, a rotas comerciais transaarianas perderam sua importância.[6]
Na era colonial, Mali ficou sob o controle francês no fim do século XIX. Em 1905, toda a sua área estava sob controle da França, fazendo parte do Sudão Francês.[6] No início de 1959, o Mali e o Senegal se uniram, formando a Federação do Mali, que conquistou a sua independência em 20 de agosto de1960.[6] A retirada da federação senegalesa permitiu que a ex-república sudanesa formasse a nação independente do Mali em 22 de setembro de 1960.Modibo Keita, que foi chefe de governo da Federação do Mali até sua dissolução, foi eleito o primeiro presidente.[6] Keita estabeleceuounipartidarismo, adotando, por sua vez, uma orientação africana independente e socialista de fortes laços com a União Soviética e realizou uma ampla nacionalização dos recursos econômicos.[6]
Antiga cidade de Djenné, declaradaPatrimônio da Humanidade pela Unesco.
Em 1968, como resultado de um crescente declínio econômico, o mandato de Keita foi derrubado por um sangrento golpe militar liderado por MoussaTraoré.[7] O regime militar subsequente, de Traorécomo presidente, teve a função de realizar reformas econômicas. Apesar disso, seus esforços foram frustrados pela instabilidade política e uma devastadora seca que ocorreu entre 1968 e 1974.[7] O regime Traoré enfrentou distúrbios estudantis que começaram no final dos anos 70, como também ocorreram três tentativas degolpe de estado. No entanto, as divergências foram suprimidas até o final da década de 1980.[7]
O governo continuou a tentar implantar reformas econômicas, mas sua popularidade entre a população diminuiu cada vez mais.[7] Em resposta à crescente demanda por uma democracia pluripartidária, Traoré consistiu uma liberalização política limitada, mas negou a marcar o início de um pleno sistema democrático.[7] Em 1990, começaram a surgir novos movimentos de oposição coerentes, mas estes processos foram interrompidos pelo aumento da violência étnica no norte do país, devido ao retorno de muitos tuaregues ao país.[7]
Novos protestos contra o governo ocorreram em 1991 levaram a mais um golpe de estado, seguido de um governo de transição e a realização de uma nova constituição.[7] Em 1992, Alpha OumarKonaré venceu as primeiras eleições presidenciais democráticas. Após sua reeleição em 1997, o presidente Konaré impulsionou reformas político-econômicas e lutou em combater a corrupção.[8] Em 2002, foi substituído por Amadou Toumani Touré, general que liderou um outro golpe de estado contra os militares e impôs a democracia. O Mali vinha sendo um dos países mais estáveis de África no âmbito político e social.[9] Entretanto, em 21 de março de 2012, um golpe militar derrubou o governo do presidente Touré.
O Mali é um país sem saída para o mar, situado na África Ocidental, a sudoeste da Argélia. Com uma área de 1.240.000 milhões de quilômetros quadrados, Mali é o 23º maior país do mundo, e seu tamanho é semelhante ao da África do Sul e da Angola. Possui 7.243 quilômetros de fronteiras com os sete países que limita. A maior parte do país forma parte do sul do Deserto do Saara, por isso o clima é quente e, comumente, tempestades de poeira se formam durante secas. O território do Mali é essencialmente plano, ainda que esta é uma rota em ocasiões por colinas rochosas. O Adrar des Ifoghas está localizado no nordeste, e as maiores altitudes são as Montanhas Hombori, que ultrapassam a altitude de 1000 metros ao sudeste, e as Montanhas Bambouk a sudoeste.
Os recursos naturais do país são consideráveis. O ouro, o urânio, o fosfato, o caulim, o sal e o calcário são os recursos mais explorados. Mali está a enfrentar problemas ambientais, como desertificação, o desmatamento, a erosão do solo e a contaminação da água.
Clima
O clima varia de subtropical a sul ao árido no norte. A maior parte do país sofre de problemas ambientais. A estação chuvosa vai do final de junho a dezembro. Durante este período de tempo, é comum ocorrerem inundações do Rio Níger em parte da região.
Demografia
Ver artigo principal: Demografia de Mali
Evolução da população entre 1961 e2003.
Em julho de 2009, a população do Mali foi estimada em 13 milhões, com crescimento anual de 2,7%. A população é predominantemente rural e entre 5% e 10% são nômades. Mais de 90% da população vive no sul, especialmente em Bamako, que tem mais de 1 milhãodehabitantes.
Em 2007, aproximadamente 48% da população de Mali era inferior a 15 anos, 45% entre 15 e 64, e os restantes 3% 65 anos ou mais. A idade mediana foi de 15,9 anos. O taxa de natalidade em 2007 foi de 49,6 nascimentos por 1.000 habitantes, e a taxa de fertilidade de 7,4 nascimentos por mulher. O taxa bruta de mortalidade em 2007 foi de 16,5 mortes por 1000 habitantes. A expectativa de vida no nascimento é de 54,5 anos (52,1 para os homense 51,5 para as mulheres). Mali tem uma das taxas de mortalidade infantil mais altas do mundo (128,5/mil nascidos vivos).
A população do Mali abrange um número de grupos étnicos da África Negra, dos quais a maioria tem concordâncias histórico-culturais, linguísticas, religiosas. De longe, o Bambara é o maior grupo étnico, correspondente a 36,5% da população. Em grupo, o bambara, o soninke, okhassonké e malinka, a maior parte do grupo mandê, representa 50% da população do Mali. Outros grupos importantes são opeul(17%), o voltaic (12%), o songaic (6%), o tuaregue e o moor (10%). Historicamente, Mali tem tido boas relações interétnicas, mas existem tensões entre os songhais e tuaregues.
A língua oficial do Mali é o francês, mas uma quantidade grande de línguas africanas (40 ou mais) são amplamente utilizadas por diversos grupos étnicos. Cerca de 80% da população do Mali pode se comunicar em Bambara, que é a principal língua veicular e a de comércio.
Evolução do IDH entre 1975 e 2007Ano 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2006 2007
IDH 0,252 0,279 0,292 0,312 0,346 0,386 0,380 0,391 0,371
Religião
Aproximadamente 90% dos malienses são muçulmanos e a maioria destes são sunitas. 5% da população é cristã (dois terços do IgrejaCatólica e o resto protestante), os restantes 5% correspondem a crenças animistas tradicionais ou indígenas. O ateísmo e agnosticismo não são muito comuns entre os malienses, a maioria de quem pratica sua religião diariamente.
Segundo o relatório anual Departamento de Estado estadunidense, sobre a liberdade religiosa, o Islã é praticado em Mali, que pode ser considerado um moderado, tolerante e adaptado às condições locais. As mulheres participam na vida político-socioeconômica, e geralmente não usam véus. A Constituição estabelece que Mali seja um Estado laico e fornece liberdade religiosa. E o governo respeita amplamente esse direito. As relações entre muçulmanos e praticantes das minorias religiosas podem serconsiderada amigáveis, e os grupos missionários estrangeiros (ambos muçulmanos e não muçulmanos) são toleráveis.
Cidades mais populosas
Mali é uma democracia constitucional regida pela constituição de 12 de janeiro de 1992, que foi revista em 1999. A constituição prevê a separação entre os poderes executivo, legislativo e judiciário. O sistema de governo pode ser descrito como "semipresidencialista".
O poder executivo é representado pelo presidente, que tem um prazo de 5 anos e está limitada a dois mandatos. O presidente é também o chefe de estado e o comandante. O primeiro-ministro é nomeado pelo presidente e atua como chefe de governo que, por sua vez, nomeia os membros do Conselho de Ministros. A Assembleia Nacional unicameral é o único órgão legislativo do Mali e é composta de deputados eleitos para um mandato de 5 anos. Após as eleições de 2007, a Aliança para a Democracia e Progresso ganhou 113 dos 160 assentos na assembleia. A assembleia tem duas sessões ordinárias por ano, durante os quais se discutem e votam as leis feitas por um membro ou pelo governo.
A Constituição de Mali prevê a independência jurídica, mas o Poder Executivo exerce influência sobre o Judiciário sob o seu poder de nomear juízes e supervisionar tanto as funções judiciais como a sua aplicação em lei. Os tribunais do Mali de maior hierarquia são oTribunal Supremo, que tem competências judiciais e administrativas, e um Tribunal Constitucional independente que proporciona controle jurisdicial de atos legislativos e serve como um árbitro eleitoral. Existem vários tribunais menores, ainda que os chefes de aldeia e anciãos são responsáveis por resolver os conflitos sobre a aldeia local.
Subdivisões
O Mali é um dos países mais pobres do planeta. O salário médio anual é de 1.500 dólares. Entre 1992 e 1995, Mali implementou um programa de ajuste econômico que resultou no crescimento de sua economia e redução dos saldos negativos. O plano de aumento das condições socioeconômicas permitiu juntar Mali à Organização Mundial do Comércio em 31 de maio de 1995. O produto interno bruto (PIB) aumentou desde então. Em 2002, o PIBascendeu a 3,4 bilhões de dólares, e aumentou para US$5,8 bilhões em 2005, resultando em uma taxa de crescimento anual de 17,6%, aproximadamente.
O algodão colhido é exportado do país e é exportado principalmente para o Senegal e Costa do Marfim. Durante 2002, 620.000 toneladas de algodão foram produzidos no país, mas os preços do cultivo diminuíram significativamente desde 2003. Além do algodão, Mali produz arroz,milho, legumes, rapé e colheitas de árvore. O ouro e o gado e a agricultura somam mais de 80% das exportações do Mali. 80% dos trabalhadores são empregados na agricultura, enquanto 15% trabalham no setor de serviços. No entanto, as variações sazonais deixaram sem emprego temporário os trabalhadores agrícolas.
Em 1991, com a ajuda da Associação Internacional de Desenvolvimento, Mali facilitou aimplementação dos códigos de mineração, o que levou a um renovado interesse e investimento estrangeiro na indústria de mineração. O ouro é extraído na região sul, onde Mali tem a terceira maior produção de ouro na África (depois da África do Sul e de Gana). O surgimento de ouro como o principal produto de exportação em 1999 ajudou a atenuar o impacto negativo da crise do algodão e da Costa do Marfim. Outros recursos naturais são: o caulim, o sal, o fosfato e o calcário.
A guerra civil no MALI Entenda o caso:
Todos os dias ouvimos pedidos para uma intervenção militar na Síria, onde a Guerra Civil já matou cerca de 60 mil pessoas. Mas poucos falavam em enviar tropas para Mali, no meio da África, onde o cenário é tão repugnante quanto o da Síria, com o norte do território nas mãos de milicianos ligados à rede terrorista Al Qaeda desde o início do ano passado.
Para entender o contexto no Mali, que diferentemente da Síria raramente recebe cobertura internacional, em março de 2012, um golpe militar derrubou um governo democraticamente eleito em Bamako. Diante de um vácuo de poder, estes grupos radicais islâmicos ligados à Al Qaeda assumiram o poder no norte do país. Estas organizações, que utilizam algumas armas fornecidas por rebeles líbios, implementaram uma versão radical da sharia, com pessoas sendo apedrejadas, mutiladas e mortas.
Diante do temor de o norte de Mali se transformar um novo oásis para a Al Qaeda, como o Afeganistão nos tempos do Taleban, a comunidade internacional decidiu se mobilizar para tentar conter os grupos radicais islâmicos. Nenhuma nação ocidental, porém, estava disposta a enviar tropas e tampouco a realizar uma intervenção nos moldes da realizada na Líbia, através de bombardeios aéreos.
A saída, depois de meses de negociações no Conselho de Segurança, foi organizar uma missão de 3.300 soldados da Comunidade Econômica do Oeste Africano (ECOWAS, na sigla em inglês). Mas estes militares começariam a lutar ao lado das tropas de Mali apenas no fim deste ano. Obviamente, o prazo se mostrou longo e os rebeldes islâmicos conseguiram avançar e agora estão próximos de tomar a importante cidade de Konna, ampliando ainda mais o controle do território nas mãos destes grupos ligados à Al Qaeda.
Na noite de ontem, o Conselho de Segurança se reuniu em caráter emergencial em Nova York demonstrando enorme preocupação com a deterioração do cenário no país africano. Diferentemente da Síria, onde há uma divisão entre os membros do órgão, com a Rússia e a China a favor do regime secular apoiado por minorias alauíta, cristãs e druza de Bashar alAssad e os EUA e os europeus apoiando a oposição de viés sunita, a questão de Mali não provoca divergências.
Hoje, sem ninguém impor obstáculos, os franceses decidiram enviar tropas para lutar ao lado das forças do governo contra os rebeldes ligados à Al Qaeda na região ao redor deKonna. É difícil fazer uma previsão do que pode ocorrer. A França ainda é um dos países que mais bem conhece Mali, por ter sido uma colônia. Mais grave, tampouco há informações aprofundadas sobre a situação da população civil.
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