As estruturas econômicas herdadas do período colonial e as modalidades
de integração ao mercado internacional produziram realidades econômicas bastante
diversificadas nos países latino-americanos. Ao longo do século, um conjunto de
países do subcontinente – a Argentina, o México, o Chile e o Brasil – viveu um
acelerado processo de industrialização, enquanto os demais permaneciam
dependentes de estruturas econômicas primárias.
Esse processo – ligado tanto a fluxos internacionais de investimento quanto
a esforços industrializantes internos – remodelou as formas de integração desses
países à economia mundial e fez surgir estruturas econômicas complexas, apoiadas
na cidade e na indústria.
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ARGENTINA
Na Argentina, as condições iniciais para a industrialização foram
estabelecidas pelo complexo rural exportador: os capitais britânicos, a força de
trabalho imigrante, a malha ferroviária e o porto de Buenos Aires. Sobre essas
bases, desenvolveu-se, desde o início do século XX, a indústria de processamento
de alimentos (óleos vegetais, carne, couro), voltada desde o início para a
exportação.
A Primeira Guerra Mundial e a depressão internacional da década de 1930
provocaram o surto inicial de substituição de importações, com o desenvolvimento
das indústrias de bens de consumo não-alimentícios, voltadas para o mercado interno.
Esse processo apoiou-se essencialmente nas pequenas e médias empresas de capitais
nacionais. O ingresso de capitais norte-americanos, que disputavam posições com
os investimentos britânicos, também contribuiu para essa etapa de decolagem
industrial. Ainda na década de 1930, o Estado inaugurou a sua participação como
empreendedor industrial, através da criação da companhia de exploração do petróleo
da região de Comodoro Rivadávia, a Yacimientos Petrolíferos Fiscales (YPF).
A moderna Argentina industrial, porém, nasceu após a Segunda Guerra
Mundial. As eleições de 1946 conduziram Juan Domingos Perón à presidência,
cargo que conservaria até o golpe militar de 1955. A “década de Perón” foi marcada
pelo crescimento industrial do país. Os capitais nacionais inseriram-se
predominantemente no setor alimentício e exportador e no de bens de consumo
não-duráveis. O Estado encampou os serviços públicos e ferroviários surgidos dos
antigos investimentos britânicos e desenvolveu a indústria de base. Os capitais
internacionais desenvolveram o setor de bens duráveis, com destaque para as
indústrias mecânicas. O peso da influência européia no país reflete-se ainda hoje na
distribuição da produção automobilística: as fábricas italianas e francesas lideram o
ramo, com larga vantagem sobre as montadoras norte-americanas.
A Argentina transformou-se em um país urbano e industrial, mas o lastro
da sua economia continua a repousar, paradoxalmente, no complexo rural. A
estrutura industrial depende, em grande medida, do vasto e diferenciado ramo do
processamento de alimentos. O comércio exterior do país, direcionado
principalmente para Europa Ocidental e América Latina, exibe forte predominância
dos produtos de origem primária.
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MEXICO
No México, a modernização industrial baseou-se em investimentos estatais
e transnacionais e em uma vasta oferta de recursos minerais. Na década de 1930,
no governo Lazaro Cárdenas, foram criadas as duas grandes empresas estatais
voltadas para o projeto de industrialização: Petróleo de México (PEMEX) e a
Nacional Financiera. A PEMEX estabeleceu o monopólio estatal da exploração
das imensas reservas de petróleo da região do Golfo do México e criou as bases
para o desenvolvimento da indústria petroquímica. A Nacional Financiera, um banco
de investimentos, financiou o desenvolvimento da indústria privada nos mais diversos
setores.
O subsolo mexicano é rico em recursos minerais. As áreas das sierras, na
região central do país, apresentam jazidas de prata, zinco, chumbo e cobre. Até
hoje, a mineração e a indústria de transformação mineral representam parcela
significativa das exportações nacionais.
A exploração do petróleo ganhou impulso na década de 1970, quando o
óleo se tornou o produto principal na exportação nacional. Dispondo do vasto
mercado consumidor norte-americano, o México optou por não ingressar na OPEP
(Organização dos Países Exportadores de Petróleo), a fim de determinar livremente
os seus níveis de produção e não subordinar suas exportações ao sistema de cotas
do cartel petrolífero.
O modelo econômico protecionista adotado por sucessivos governos
mexicanos – baseado na multiplicação das taxas alfandegárias no estímulo à
produção nacional – atraiu para dentro das fronteiras do país os investimentos de
empresas transnacionais. O baixo custo da força de trabalho e a presença de uma
base industrial erguida pelo Estado também contribuíram para o fluxo de
investimentos externos. Desde a Segunda Guerra, a instalação de filiais de
conglomerados estrangeiros – especialmente norte-americanos – renovou a
paisagem industrial mexicana.
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CHILE
No Chile, a economia mineradora, marginal durante a colonização, se
transformou no centro da vida nacional após a independência. Em meados do século
XIX, a implantação de poderosas companhias européias de extração de cobre e
salitre criou vínculos estreitos entre o país e os mercados e capitais estrangeiros. Na
sombra da economia exportadora, cresciam as atividades urbanas e ampliavam-se
os investimentos estatais em infra-estrutura. Um incipiente surto de industrialização
teve lugar neste período. O Chile conheceu uma urbanização rápida e precoce,
fortemente polarizada pela capital, Santiago.
A crise de 1929 incidiu devastadoramente sobre a economia chilena. O
estrangulamento dos mercados internacionais lançou o país ao caos econômico,
traduzido por um período de desemprego em massa, fortes convulsões sociais e
instabilidade política. Este quadro turbulento se arrastou até a Segunda Guerra
Mundial.
O cobre, essencial para a indústria bélica, conheceu então uma valorização
acentuada, ao mesmo tempo que o conflito restringia as importações de manufaturas.
Iniciava-se um segundo surto de industrialização, fortemente apoiado pelas políticas
públicas. No pós-guerra, empresas transnacionais, principalmente norte-americanas,
multiplicaram seus investimentos tanto na mineração como no parque industrial.
Porém, a emergência de um importante setor urbano industrial não eliminou a elevada
concentração fundiária e de renda, herdada dos períodos anteriores.
O governo democrata-cristão de Eduardo Frei, eleito em 1964, implementou
um programa de reformas cujos principais alvos eram o combate à estrutura agrária
fundada nos velhos latifúndios e o domínio exercido pelos capitais estrangeiros sobre
o setor mineral. Assim, realizou uma reforma agrária e iniciou um programa de
nacionalização gradual das empresas mineradoras.
Seu sucessor, Salvador Allende, eleito em 1970 por uma coligação de
partidos de centro-esquerda, iria muito mais longe. Durante o governo da Unidade
Popular, as minas norte-americanas de cobre, o sistema bancário e muitas das
grandes empresas industriais privadas foram nacionalizados. O programa de reforma
agrária foi acelerado e aprofundado.
Em de setembro de 1973, um golpe militar encabeçado pelo general Augusto
Pinochet encerrou o governo da Unidade Popular. O novo governo pôs em prática
um amplo programa de privatizações e de abertura da economia para o capital
estrangeiro, que prosseguiria com a democratização, ocorrida em 1989. A
competitividade externa passou a ser o fundamento da economia nacional.
Atualmente, a forte integração ao mercado mundial é a principal característica
da economia chilena, e a distingue do conjunto dos países industrializados do
subcontinente. O cobre responde por cerca de 40% do total das vendas. O Chile é
o maior exportador de cobre do mundo e a estatal Codelco, responsável por grande
parte das minas do país, é a maior empresa chilena em volume de comércio exterior.
Os países que ficaram alijados da decolagem industrial seguem dependendo
de exportações de produtos agrícolas e minerais. Em muitos casos, eles se tomaram
bases importantes das rotas internacionais de narcotráfico e de capitais clandestinos.
A Venezuela representa um caso particular: sua industrialização, relativamente significativa, assenta-se na base econômica propiciada pela extração, comercialização
e exportação do petróleo.