Prevista para, daí chamada de Genebra-II, a conferência ocorre em Montreux. Motivo? Em Genebra está acontecendo um encontro de relojoeiros suíços. O evento lotou todos os hotéis da cidade, frustrando o local previsto para negociar a solução para a guerra civil síria.
Apesar de remoto, devido à relutância do governo sírio e da Rússia em aceitar os termos da Comunidade Internacional para a conferência, o objetivo é alcançar a paz através da transição do poder executivo das mãos de Bachar al-Assad para as mãos da oposição, não havendo a previsão de qualquer lugar para o ditador na política.
Remoto, porque a paz não será alcançada enquanto o Irã (principal aliado regional da Síria) não se der conta de que prorrogar a permanência de Assad no poder implica no aumento das possibilidades da maioria sunita voltar-se contra a minoria xiita, não só do Irã, como também de todo a região do Oriente Médio, a exemplo do Líbano, onde ocorre um prolongamento da guerra sectária síria.
Em outras palavras, com a permanência do ditador no poder, corre-se o risco de transformar a guerra civil síria em apenas mais uma “batalha” de uma guerra ainda mais catastrófica, entre sunitas e xiitas em toda a região.
Talvez, fossem eles (o financiador Irã e a fornecedora bélica russa) a pensar nessa possibilidade, aceitariam o consenso dos 39 países participantes da conferência.
Parênteses: não há mais noticia sobre o posicionamento da China, evasiva como sempre…
Pela demora em resolver a situação catastrófica da Síria, presume-se que não há benefício o bastante que justifique o custo de se priorizar a solução do problema, como na Líbia. Já se passaram mais de 30 meses desde o início das manifestações pacíficas contra o regime ditatorial sírio, e o que percebemos é uma Comunidade Internacional assistindo apática e resignada a mais um genocídio, em pleno século 21.
Genocídio esse promovido pela opressão do ditador (alauita, credo religioso ligado ao xiismo) contra seus opositores (sunitas, 80% da população), financiado pelo Irã e com suporte bélico da Rússia, e apoio desta e da China, no Conselho de Segurança da ONU, através dos vetos de ambas às resoluções de paz para a Síria
Atualmente, a inobservância e o descumprimento dos direitos humanos por parte de um Estado parecem não ser motivo suficiente para a Comunidade Internacional agir com prontidão.
Caso houvesse algo de interesse comercial nesse país, destruído pela guerra civil, a história seria outra, e não contaríamos com subestimadas 130 mil mortes (maioria da oposição); 6,5 milhões de deslocados internos; 2,5 milhões de refugiados, sendo metade crianças; 1,5 milhões de opositores presos, sendo que somente em uma das prisões foram registradas 10 mil torturas seguidas de morte (crimes de guerra).
Ainda mais: 25% da população passam necessidades básicas, porque o ditador genocida impede a formação de corredores de ajuda humanitária no país. Caso houvesse algum interesse comercial neste país, esta guerra não teria tomado tais proporções, a ponto de se tornar a maior catástrofe do século 21.
A sobreposição de prioridades confirma a passividade com que a Comunidade Internacional assiste à catástrofe: o objetivo primário não foi a resolução do colapso humanitário pelo qual passa a Síria, mas a neutralização das suas armas químicas.
Não se verifica a mesma determinação em apurar e responsabilizar o(s) autor(es) deste atentado contra os direitos humanos (uso de armas químicas contra civis) como a determinação em neutralizá-las. São os valores democráticos ocidentais postos em segundo plano.
No entanto, a queda do ditador é inevitável, e prorrogar o inevitável consiste no próprio desgaste e enfraquecimento da teocracia iraniana, que luta contra um fim previsível desde o começo, já que nenhum governo mantém-se no poder sem o apoio do povo.
Entretanto, a mera coincidência da sucessão do fim das ameaças externas do programa nuclear iraniano, e consequente aproximação com os EUA após o desmantelamento do arsenal químico sírio, começa a revelar contornos dissimulados de uma estratégia defensiva, caso se concretize uma proliferação generalizada da revolta da maioria sunita contra a minoria xiita do mundo árabe.
O que faz não se descartar o apoio militar da comunidade internacional aos iranianos, pois por lá o petróleo brota no chão.
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