1949, o presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, pronuncia o discurso de posse do segundo mandato na Casa Branca. Nesta ocasião, apontou a grande pobreza que afetava a metade da humanidade.
No Ponto Quatro de seu discurso, declarou: “Faz-se necessário lançar um novo programa que seja audacioso e que ponha as vantagens de nosso avanço científico e de nosso progresso industrial a serviço da melhoria e do crescimento das regiões subdesenvolvidas. Mais da metade das pessoas em todo o mundo vive em condições vizinhas à da miséria. Não têm muito o que comer. São vítimas de enfermidades. Sua pobreza constitui uma desvantagem e uma ameaça, tanto para elas quanto para as regiões mais prósperas.”
Era a primeira vez que se empregava a expressão “subdesenvolvido” a propósito de um país que ainda não tivesse atingido o estágio industrial. Fez florescer, por sua vez, a expressão “terceiro mundo”, inventada pouco depois, em 1952, pelo demógrafo Alfred Sauvy.
O discurso de Truman desemboca em junho de 1950 na assinatura do Act for International Development (AID, Programa para o Desenvolvimento Internacional).
Para os norte-americanos e mais amplamente para os ocidentais, o combate contra o “subdesenvolvimento” seria o substituto da “missão civilizadora” do tempo das colônias como objetivo messiânico. No meio século que se seguiu se tornaria corriqueiro não mais levar em conta as nações e os povos em sua diversidade cultural, social e humana, mas somente e sim em catalogá-los como “país subdesenvolvido” e “país desenvolvido” em função do Produto Interno Bruto por habitante (PIB/habitante). Era o triunfo da econometria, uma visão contábil e matemática da economia.
A tomada de consciência do “subdesenvolvimento” levou os países ricos e poderosos, geralmente as potências ocidentais, a desenvolver redes de assistência financeira e de cooperação técnica com os países pobres. Ao auxílio público se acrescentou nos anos 1990, a ajuda caritativa das “organizações não governamentais”. A ausência de controle e a corrupção alteraram consideravelmente a eficácia desta ajuda privada. Quanto à assistência pública, ela vinha cercada de tantas condições e restrições que mais subjugavam que ajudavam. Na alvorada do século 21, a ajuda internacional aparecia como um fator de agravamento do subdesenvolvimento e da miséria.
A avaliação econométrica do subdesenvolvimento, levando em conta apenas o fator PIB/habitante se revelou uma ilusão de óptica, uma verdadeira aparência enganosa.
Regimes ditatoriais ou medievais enriqueciam com os ingressos de algumas companhias petrolíferas ou mineiras, como Arábia Saudita, Gabão, Argélia ou Nigéria figuravam como países ricos enquanto as condições de vida da maior parte dos habitantes em termos de mortalidade infantil, expectativa de vida e alfabetização se mostravam medíocres. Em contrapartida, países ou regiões muito pobres, se se levar em consideração a proporção PIB/habitante, como, por exemplo, o estado de Kerala, na Índia, asseguram aos seus habitantes um quadro de vida relativamente sadio e equilibrado em comparação com seus vizinhos.
Enfim, países cuja situação parecia desesperador em meados do século 20 saem a passos de sete léguas do “subdesenvolvimento” e vão ingressando no clube dos países ricos. É o caso de regiões banhadas pelo Mar da China e dos países emergentes pertencentes à sigla BRICS. Em sentido contrário, a África subsaariana, que parecia destinada a um rápido desenvolvimento nos anos 1960 devido aos seus imensos recursos naturais do solo e subsolo, penam para se libertar de seus demônios.
Nos anos 1990, as instituições internacionais lançaram novos indicadores para melhor levar em conta todas as heterogeneidades: o “desenvolvimento humano” ou IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Leva em consideração o PIB/habitante mas também a taxa de alfabetização e a mortalidade infantil, esta por sua vez representativa do nível das condições sanitárias do país e do grau de emancipação das mulheres.
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